De tempos em tempos a super-população (i.e. a população de super-heróis) das editoras se torna uma super-super-população. Os editores se descobrem publicando mais títulos do que podem administrar satisfatoriamente e um mar de erros de continuidade invade seus escritórios. Para editoras como a Marvel, que fazem questão de manter todas suas publicações dentro de um mesmo universo coeso, lidar com os entrelaçamentos das histórias é uma preocupação diária e a coisa nunca fica demasiado difícil de se lidar com, apesar de vez por outra eventos como as Guerras Secretas serem necessários para colocar ordem na casa e unificar as pontas que começavam a se soltar da trama sólida das fiandeiras. Para editoras como a DC-Comics, porém, a máxima "para que fazer hoje se pode ser feito amanhã" parece ser o primeiro mandamento. As publicações vão sendo feitas semi-independentemente e cada revista é praticamente um rincão isolado do mesmo universo. Isto é, você sabe que Justice League, Batman e Superman contam histórias de heróis que vivem na mesma realidade, mas não é por isso que os eventos de uma revista precisam influenciar o andamento da outra, não é? (Sarcasm Mode On.) Na DC não apenas não existe um vínculo forte entre revistas distintas como fases diferentes das mesmas publicações não precisam necessariamente ser verossímeis entre si. Desta maneira o mundo gira, running wild and free...até que a bolha de inconsistências se torna grande demais para ser ignorada e SUPER-EVENTOS são criados para jogar fora o mundo caótico anterior e dar à luz um mundo novinho, fresquinho...cheirando a brinquedo novo. Já vimos isso acontecer uma vez em 1985 (ou assim nos contam os sebos, para quem for da minha idade) com Crise nas Infinitas Terras e estamos a poucas semanas de ver isso novamente. A partir do final de Agosto todas as revistas DC sofrerão um reboot e voltarão para o número 1.
O "Super evento" desta vez é mais sutil e já está acontecendo. Se você ouviu falar ultimamente da saga Flashpoint...é esta mesma que está preparando tudo para 31 de Agosto.
FLASHPOINT: LIMPANDO A CASA...
O Universo da saga Flashpoint (escrito por Geoff Johns e desenhado por Andy Kubert) nos é apresentado pelos olhos de Barry Allen, o Flash. O cientista policial (que, à propósito, morreu na Crise das infinitas Terras em 1985 e foi trazido dos mortos por Grant Morrison na Crise Infinita em 2008...santa criatividade, Batman!) simplesmente acorda em seu escritório em uma Central City bem diferente da sua. Nela ele encotra sua mãe ainda viva e no momento de emoção confessa ser Flash. Para sua surpresa, sua mãe afirma nunca ter ouvido sobre Flash, ou sobre a Liga da Justiça e Superman, respondendo afirmativamente apenas sobre Batman. Barry vai para Gotham City e encontra uma espécie de Las Vegas mais sombria, dominada pelos Cassino Wayne...
Em Gotham...
Batman e Cyborg se reúnem com um grupo de super-heróis para decidirem o que fazer a respeito da Guerra entre Aquaman e seus Atlantes e as Amazonas da Mulher Maravilha, que tem causado destruição e mortes massivas no oeste europeu e ameaça se alastrar para a América. Incapazes de trabalhar juntos, os heróis viram as costas uns para os outros. Flash invade a Batcaverna e é espancado pelo Homem Morcego, enquanto tenta inutilmente explicar quem é. Em um último esforço ele alega saber que Batman é Bruce Wayne e isso detem seu espancador...não por servir de prova de que fala a verdade, mas porque o Cavaleiro das Trevas afirma ter "visto Bruce morrer". Em meio a confusão Batman se revela Thomas Wayne e seu filho, Bruce, foi assassinado em frente a seus olhos nesta linha de realidade.
A saga Flashpoint é uma coleção de 14 minisséries divididas em seis linhas:
Whatever Happened to Gotham City?
FLASHPOINT: BATMAN KNIGHT OF VENGEANCE #1-#3
FLASHPOINT: DEADMAN AND THE FLYING GRAYSONS #1-#3
Whatever Happened to the World’s Greatest Super Villains?
FLASHPOINT: CITIZEN COLD #1-#
FLASHPOINT: DEATHSTROKE & THE CURSE OF THE RAVAGER #1-#3
FLASHPOINT: THE OUTSIDER #1-#3
Whatever Happened to the Aliens?
FLASHPOINT: ABIN SUR THE GREEN LANTERN #1-#3
FLASHPOINT: PROJECT: SUPERMAN #1-#3
Whatever Happened to Science & Magic?
FLASHPOINT: FRANKENSTEIN & THE CREATURES OF THE UNKNOWN #1-#3
FLASHPOINT: SECRET SEVEN #1-#3
Whatever Happened to Europe?
FLASHPOINT: EMPEROR AQUAMAN #1-#3
FLASHPOINT: WONDER WOMAN AND THE FURIES #1-#3
FLASHPOINT: LOIS LANE AND THE RESISTANCE #1-#3
Everything You Know Will Change in a Flash
FLASHPOINT: KID FLASH LOST #1-#3
FLASHPOINT: THE WORLD OF FLASHPOINT #1-#3
As minisséries contam as histórias dos grandes ícones DC nesta nova realidade, e conforme as histórias avançam, mais percebemos que não estamos em um Universo paralelo, mas sim no resultado de algum evento temporal que abalou a Nova Terra (O universo DC "oficial" desde Crise Infinita). Flashpoint lança sua última revista no mesmo dia do lançamento dos títulos renumerados (31 de Agosto) e o reboot se encarrega de aprofundar ainda mais o novo mundo criado nas minisséries... jogue fora suas revistas, nada daquilo passará a ter existido (viagens temporais e o novos tempos verbais...) em breve.
O projeto de revitallização do universo DC está nas mãos de Geoff Johns e de Jim Lee e o desenhista já remodelou cerca de 50 personagens. A idéia dos editores é dar uma aparência mais jovem aos heróis para ter um meio de comunicação mais eficiente com os novos leitores. Além do rejuvenescimento estético as tramas focarão mais no lado humano por baixo da máscara, seguindo depois de 50 anos a tendência lançada pela rival, Marvel.
Em termos de formato a novidade da editora será o lançamento simultâneo de edições digitais e tradicionais, buscando atender um público (fresco) que exige um acesso mais prático às histórias e que vê como ultrapassado o hábito de colecionar revistas em tinta e papel.
Se você me perguntasse o que eu acho disso... eu provavelmente diria que a DC é um palhaçada e que ela deveria manter apenas o selo Vertigo, contratando Alan Moore para uma última história onde descobrimos que na realidade todos os universos de super-heróis da DC de todos os tempos foram uma viagem ácida de um anão crítico de jazz, pansexual e alcoólatra. e ele deveria morrer no final. Estrangulado por uma de suas alucinações. Mas na verdade seria algo mais John Bonham...
fontes: DC-comics.com; multiversodc.com e omelete.com
